Em boa companhia
- Renata Duffles Andrade Amorim

- 12 de out. de 2015
- 2 min de leitura

Me dirigi à bilheteria do cinema e pedi um ingresso para assistir ao filme que estava em cartaz. Sem entender, a moça perguntou: “só para a senhora?”. Sim, só para mim. Pareceu-me chocada. Peguei a entrada e caminhei em direção a sala. Sentei-me. Gradualmente o ambiente foi enchendo e tomando forma.
Casais entravam de mãos dadas, pais chegavam acompanhados de seus filhos, amigos com seus grupos, todos, um por um, tomando seus lugares. As pessoas entravam e olhavam para mim, esperando que alguém sentasse ao meu lado. Assim, a minha singularidade estaria justificada: “ela só estava esperando alguém”. Não, não estava esperando ninguém. Ninguém que não fosse eu mesma.
Estamos em pleno século XXI, qual é o espanto de uma mulher sozinha no cinema? Não, espera. O espanto não é com a mulher, é com qualquer um. Experimente, independente de ser homem ou mulher, dizer à alguém que está indo ao cinema, sozinho.
Na sala, além de mim, havia um homem. Igualmente sozinho. As pessoas que passavam olhavam para ele da mesma forma que olhavam para mim: esperando, desesperadamente, que alguém chegasse e senta-se ao seu lado. Olhei a cena com uma certa curiosidade.
Me dei conta que as pessoas possuem medo de ficarem sozinhas, de se verem sós. Medo de si mesmas, medo de seus próprios pensamentos. Uma pena, não há nada melhor que ficar sozinho. Sim, repare, não sou uma pessoa solitária, tenho uma família grande, amigos, pessoas que me amam e que me querem bem. Estar sozinha faz que as pessoas me julguem ser uma pessoa solitária.
Medo de se amar, de se conhecer e ter o prazer de estar bem consigo mesma. Se eu dissesse que estaria em casa, assistindo a um filme, o espanto não seria tão grande. O Incomodo é mostrar a todos que você não possui problema algum em desfrutar de sua própria companhia.
Reconheço que há alguns anos eu não assistiria a um filme sozinha, tinha receio de ser julgada socialmente. No cinema é só você e a tela, ter alguém ao seu lado, durante aquelas duas horas, não fará diferença alguma. Você assiste por você e não pela pessoa que está ao seu lado.
Martha Medeiros escreveu: “Estar com alguém só para não estar sozinho é solidão mal administrada”. Dentro daquela pequena sala, eu, dentre tantas pessoas, era a menos sozinha. Havia, com toda a certeza, pelo menos, duas ou três pessoas que estavam acompanhadas, mas, ao mesmo tempo, estavam solitárias. Eu não. Eu estava em boa companhia!





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